Rede Universidade do Professor oferecerá cursos presenciais e a distância de acordo com o tipo de formação inicial dos docentes
Bruna Rodrigues, do Todos Pela Educação
Segundo dados do Censo Escolar de 2015, 38,7% dos 518.313 docentes que atuam nos anos finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio da rede pública brasileira não possuem formação adequada para a disciplina que lecionam. Em resposta a isso, o Ministério da Educação (MEC) lançou, no final de março, a Rede Universidade do Professor, programa que dispõe de 105 mil vagas em cursos para que esses educadores possam complementar seu ensino.
A oferta será concedida a partir do segundo semestre deste ano. As universidades e institutos federais serão responsáveis por 24 mil vagas remanescentes do Enem em cursos presenciais e a Universidade Aberta do Brasil (UAB) por 81 mil a distância. Além dessas opções, o Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (Parfor), criado em 2009, continuará complementando a formação de docentes durante as férias escolares do primeiro semestre de 2017.
Para tornar possível a proposta, o MEC dividiu esses profissionais em categorias, de acordo com a necessidade formativa de cada um e o tipo de curso que poderão fazer parte, como se vê na tabela abaixo.
Formação atual | Cursos oferecidos |
Professores com formação superior de bacharelado na disciplina correspondente, mas sem licenciatura ou complementação pedagógica.
| Formação pedagógica para não licenciados, com carga de 700 a 1100 horas. |
Professores com licenciatura em área diferente daquela que leciona, ou com bacharelado nas disciplinas da base curricular comum e complementação pedagógica concluída em área diferente daquela que leciona. | Segunda licenciatura, com carga de 500 a 900 horas. |
Professores com outra formação superior não considerada nas categorias anteriores. | Conclusão da formação superior em licenciatura, com carga de 2800 horas de formação. Dependendo do caso, poderá ser enquadrado no grupo de docentes com curso superior sem licenciatura. (Primeiro item) |
Professores que não possuem curso superior completo. | Conclusão da formação superior em licenciatura, com carga de 2800 horas de formação. |
Para Raquel Lazzari Leite Barbosa, professora da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Linguagem, Ensino e Narrativa de Professores (Geplenp), a oferta de cursos para possibilitar a melhoria da formação é importante, contudo, ela precisa ser acompanhada de incentivo para a carreira docente. “Deveria ser previsto ao professor diminuir a jornada de trabalho pelo mesmo salário, para que ele tenha condições e tempo de frequentar os cursos e de se apropriar desses saberes”, afirma.
Guilherme do Val Toledo Prado, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Continuada (Gepec), também acredita que só a oferta do Ministério não é suficiente. “A parte do Governo Federal é proporcionar a formação, o que os sistemas municipais e estaduais precisam é criar as condições para que essa complementação aconteça sem o detrimento da condição de trabalho do profissional”, explica.
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Além da necessidade da colaboração entre os entes federados, os especialistas apontam a Educação a Distância (EAD) como uma opção que tende a diminuir a sobrecarga do docente, e, de acordo com Araújo, a CNTE defende essa modalidade de ensino para a formação continuada. Entretanto, Raquel coloca em discussão a grande evasão de alunos que a EAD possui. “A formulação desses cursos a distância precisa ser revista e repensada”.
Segundo Prado, a eficácia desse sistema está relacionada ao acompanhamento próximo ao estudante: “a UAB tem essa possibilidade, e há algumas instituições federais com uma tradição maior na tutoria do processo formativo”.
Para o docente da Unicamp, atualmente o professor não tem nenhum benefício em sua carreira para quaisquer cursos que complementem a formação que ele faça. “Não há estímulo interno”. Araújo reitera esse posicionamento e lembra que, em muitos casos, não há uma alteração significativa no salário após os cursos. “O plano de carreira é necessário como um atrativo para motivar esse profissional a continuar o seu ensino, porque ele sabe que ao fazer isso vai aprimorar o conhecimento e ao mesmo tempo será valorizado pelo estudo”.
Serviço
Em entrevista coletiva durante o anúncio da Rede Universidade do Professor, o ministro da Educação, Aloísio Mercadante, reiterou que nenhum professor ficará sem vaga e, se for preciso ampliar o número de vagas, haverá pactos com a rede privada.
O docente que tiver interesse em fazer parte da iniciativa deverá se cadastrar até o dia 20 de maio na Plataforma Paulo Freire (http://freire.capes.gov.br/). Estarão disponíveis vagas em cursos de licenciatura em matemática, química, física, biologia, letras–português, ciências, história e geografia. A previsão para a divulgação dos resultados é até o dia 30 de junho.